A poesia abaixo fala de um amor que começou rápido e acabou. De alguém que desejou entrar na vida de outro, e esse outro consentiu, por carência, por estar precisando ou por ter visto nesse alguém uma pessoa confiável. Pouquinho mais tarde, esse outro experimenta o afastamento frio e ainda mais rápido do que a aproximação.
Não me referi apenas ao amor de um casal. Quis ir além e falar das amizades, dos relacionamentos de modo geral; queria falar de como pode ser perturbador encontrar pessoas na vida que se aproximam com grande intensidade e, depois, com a mesma intensidade de aproximação, após você ter compartilhado sua vida, sua existência, acontece um movimento de afastamento, sem que exista um motivo aparente.
O motivo certamente existe, contudo, talvez não esteja bem fundamentado ou claro, dentro do que se pode logicamente esperar. A questão é: o que você passou a ser para o outro? E o que era antes? O que falou, fez, como agiu, como se calou, para produzir o movimento de afastamento? Talvez nem tenha sido culpa sua. Talvez o outro que se afasta tenha descoberto que você não era bem o que ela pensava, queria, ou estava procurando. As razões do coração podem ser muitas, só Deus pode julgar com sobriedade.
Então, ao entrar na vida de alguém, ao desejar essa aproximação, eu pessoalmente fico pensando em como é importante dimensionar bem esse movimento. De que modo vou e posso entrar? Como permanecer e até quando permanecer? Qual o momento certo para se afastar (se for necessário se afastar)?
Se existe uma motivação interior pra escrever isso? Claro. Ma, de verdade, faz tempo que queria expressar minha visão a respeito, pois já aconteceu na minha vida também e na vida de muitas pessoas, pelo que tenho conversado.
Não é que toda vez cause dor o afastamento inesperado, dentro do contexto que pus aqui. A gente acaba tendo que se acostumar, mas tem como consequência um certo sentimento de proteção (do coração,) para evitar que o afastamento possa causar estranheza e perturbação da mesma forma que antes.
Você bateu na portaEu abriEstava com sedeEu dei águaCalmamente perguntou sobre minha vidaE pouco a pouco fui contando tudoLemos juntos cada folha do livro da minha vidaRapidamente falou de amor, amizade, pazRapidamente, me passou tanta confiançaDe repente, estávamos na mesma mesa jantandoPasseávamos no mesmo jardimVocê tocou a músicaEu danceiMe ensinou novo passosEu me acostumeiMe fez vestir novas roupasMudou o meu perfume!Você cantavaE ao som da tua voz o sol nascia,A noite falava,O vento parava ou corriaMeu coração aprendia a viverSem aviso, rapidamenteVocê passava longe da porta!Agora eu tinha sedeE não havia água, você levou!Agora eu que perguntava sobre minha vida!Você a levou também!O final ficou muito perto do primeiro capítuloTudo silenciouDe repente, até a comida sumiu da mesaE as flores murcharam no jardimNão havia mais músicaNem dançaO vento parouO coração parouNum ponto doloroso de interrogação(Jackson Angelo, em 27/10/2009; 0h18)