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Direito a uma escolha (para um amigo)

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

O texto abaixo foi baseado em um desabafo de um amigo meu em relação a sua namorada, não reflete necessariamente o que a gente conversou. Imaginei esse amigo como alguém tentando comunicar a outro o que parece nunca conseguir, ainda que grite. E pensei o quanto pode se tornar difícil a gente expressar a nossa sinceridade em relação às coisas e às pessoas se os ouvidos e a sensibilidade da pessoa com quem tratamos é muito dirigida a ela mesma e nunca de modo preciso ao outro.
"- Vamos ver qual será o próximo motivo pra gente estar junto. Porque nunca me sinto eu mesmo quando estou ao seu lado. Minha boca se sente só uma boca física. Minhas palavras parecem quebrar a música que você quer ouvir ou o silêncio que você não quer ver decifrado. Nunca sou o motivo, a razão. A razão é sempre você mesma: sua necessidade de falar e ser ouvida, porém não vê motivo pra mudanças. Você apresenta até as suas soluções, e não importa se alguém concorde ou discorde. Você não liga se minha roupa está suja ou limpa, se estou gordo ou magro. Parece que nada disso faz sentido, que você não se importa com as aparências. O problema é que você não nota nada mesmo. Mas sempre pergunta se está bem, se está bonita. Não me ajuda a escolher nada pra mim junto comigo, já entrega pronto ou aponta um manual. Mas quer que eu esteja sempre disposto a lhe ver criticando a última moda, a primeira moda, a sua maestria em criar e reciclar a moda, de fazer sua moda. Eu admiro sua originalidade, sua firmeza para decidir, mas algumas vezes queria que minha opinião valesse alguma coisa, às vezes também imagino você em certas cores, às vezes também queria me ver em você em alguma coisa, não como manipulação, mas pra você mostrar pra mim que me ouviu, ainda que sua opinião seja sempre a melhor e absoluta.
Sempre assisto os filmes que você programa, os shows, os cantores que lhe fazem recordar bons momentos, mas enquanto isso você quase nada sabe sobre mim. Apesar de já ter lhe contado tanta coisa, nos poucos momentos em que você se descentrou de si mesma e pôde me ouvir. Que nada! Por dentro, seus ouvidos eram guiados por outra voz: a voz do seu interior.
Já explodi! Já me queixei! Você age como se tudo fosse uma simples tensão do momento. O pior é que você sempre me vence quando fica me cobrando carinho, atenção e compreensão. E é justamente isso o que sempre busquei em você.
Já tentei me convencer que tou sendo muito exigente, que o egoísta sou eu. Mas com o passar do tempo, ainda não me vi ao seu lado. Eu me sinto mais a extensão que você faz de mim mesmo pra sua vida: seu terceiro olho (vê aí pra mim!); sua terceira boca (diz pra mim isto; diga isso ou aquilo"); a pessoa que você tem que ter pra uma auto-afirmação, ser o "homem-você" que você escolheu pra si mesma. Mas, parece esquecer que também sou "homem-eu," que tenho direito a te conhecer e rejeitar essa minha escolha."
 

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