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ESPELHÓTICA: CABELEIRA E IMAGINÁRIO

segunda-feira, 28 de maio de 2007


Segundo o Dicionário Rideel de Mitologia, "em todas as épocas, a cabeleira sempre desempenhou um papel importante no imaginário humano. Era dotada de uma força sobrenatural e de poderes mágicos: as Erítrenas fabricaram uma corda com seus cabelos para puxar pela praia uma canoa que levava a estátua de Héracles. Íris tinha por função cortar o cabelo fatal das mulheres destinadas à morte. As egípcias sacrificavam sua cabeleira aos deuses-rios. Os adolescentes gregos ofereciam seu primeiro cabelo seu primeira pêlo a Apolo. Os lacedemonianos perfumavam seus longos cabelos antes de irem à guerra. Na Índia antiga, o brâmane praticava nas mulheres grávidas o ritual do risco do cabelo: no terceiro mês de gravidez, a cabeleira era dividida em duas partes simétricas, com o auxílio de um pêlo de porco-espinho com três anéis brancos.
O penteado dos deuses era escolhido em função de suas atribuições; as deusas do amor e da beleza tinham cabelos longos; Hermes e Ares tinham cabelos curtos e ondulados; Hefaistos, Héracles e a maioria dos heróis tinham cabelos curtos e crespos. Os cabelos de Poseidon eram longos e despenteados, os cabelos de Pã, dos Sátiras e dos Faunos eram rudes e abundantes. A cabeleira de Medusa, das Erínias e de outros monstros fêmeas era feita de serpentes..."
Segundo algumas tribos indígenas do Brasil, o cabelo é um prolongamento da própria alma. Eu concordo, certamente tomando alma como identidade: quem não se sente outra pessoa ao mudar o corte do cabelo ou a forma com que se é penteado, adornado e moldado? Não, não! Esse outro é uma possibilidade real que a mudança no visual do cabelo pode proporcionar. Eu já começo a ser outro quando me olho e me aprovo, eu poderia até me paquerar se eu não fosse eu mesmo. Um prazer irresistível, da qual nem a luz escapa, principalmente quando o valor dessa mudança menospreza os próximos trinta dias do mês no bolso.
O espelho diz isto!! Quando aprendemos a interpretar bem, um espelho, dificilmente será necessário o auxílio da opinião alheia. Certamente, é decisivo agradar o outro e muito do que é vaidade e ético leva mais em consideração o outro do que a própria identidade (opinião minha). Pode-se correr o perigoso risco de se tornar uma extensão de outra pessoa.
Esta tensão de agradar não só o espelho, o eu, se estende também aos outros:
"Quero ser admirado, quero que me achem bonito. Quero causar muita, muita inveja. Definitivamente, quero ser invejado e imitado. Só existe uma possibilidade que não suporto: alguém pode ficar melhor do que eu!!!! Espelho, espelho meu, diga se há alguém mais bonito do que eu? Tome cuidado, espelhinho querido! Eu sei que você mente e sei quando e como você mente.
Na sociedade atual em que impera a força do nascisismo, egoísmo e materialismo, a estética sobrepuja a essência, a beleza fica acima do bom carácter (se é que em outras eras, os valores espirituais preponderavam, acho que sempre houve muito falso moralismo). O carácter nem chega a ser critério.
O cabelo sempre foi elemento de extrema importância na construção do visual, que reflete nossa identidade, nosso modo de ser, enfim, os cabelos fazem parte do nosso processo de comunicação sem palavras. Digo isto sem nenhum compromisso científico, mas como um cidadão comum, que vê e sente limitada e desarmadamente a sociedade.
Queremos sonhar, queremos ter a melhor vida possível, não queremos que os heróis das novelas sejam pobres e, se forem, que sejam bonzinhos e alcancem a felicidade através do enriquecimento material. Queremos ter um cabelo que corresponde à nossa identificação.
O valor que se dá aos cabelos muda de uma época para outra, de um lugar para outro, de uma religião para outra, de uma cultura para outra, de uma idade para outra, de uma ideologia para outra, e por aí vai. Até chegar no valor particular algumas normas e costumes sociais podem ou não ser obedecidos.
Em alguns países de religião muçulmana, a mulher não pode expor os cabelos, porque são sagrados, apenas o marido tem este direito. Elas usam um véu conhecido como hijab. No Irã, segundo reportagem da BBC, já é apontada uma abertura neste sentido, as mulheres já podem expor o rosto e parte do cabelo, podem ainda mudar a cor do véu que cobre o pescoço e a cabeça, etc.
Na maioria das denominações evangélicas, como Igreja Batista, Betel, etc., a mulher não pode ter o cabelo curto, noutras nem cortar é permitido, como na Igreja Deus é Amor, do Missionário David Martins de Miranda; em muitas delas para o homem é desonroso ter o cabelo crescido. Isto tendo como base, entre outros, o versículo Co 11.14-15.
Nos textos bíblicos, uma variada gama de significados dos cabelos pode ser observada. É o que aponta o Dicionário Bíblico Universal, de Buckland:
"As mulheres hebréias usavam o cabelo comprido e separavam-no em certo número de tranças, que eram depois entrelaçadas juntamente O cabelo preto, entre os israelitas, era considerado como o mais belo (Ct 5.11). Os hebreus usavam o cabelo natural com certo arranjo, mas não cortado. Que as israelitas tinham bastante trabalho para dar realce à sua natural beleza, depreende-se de muitas passagens da Escritura, como Rt 3.3; SI 23.5; Ec 9.8;
Mt 6.17, onde se mostra ter sido comum o cuidado e embelezamento do cabelo, usando-se para isso ungüentos perfumados. Os apóstolos notaram a excessiva atenção prestada ao adorno do cabelo pelas mulheres do seu tempo e censuraram essa atitude (1 Tm 2.9; 1 Pe 3.3). Rapar a cabeça era sinal de grande aflição (Jó 1.20; Jr 7.29); mas pela mesma causa também se permitia que o cabelo crescesse, sem cuidarem dele. Arrancar os cabelos com as mãos era demonstração de grande e repentino desgosto. Um dos sinais de lepra era uma mudança na cor do cabelo; por isso se mandava que fosse cortado, como sendo a sede da doença (Lv 13.4,10; 14.8,9). A frase em Ct 7.5, "a tua cabeleira [é 1 como a púrpura", significa que estavam bem cuidados os anéis do cabelo. Considerava-se o cabelo a coisa menos valiosa do homem (2 Sm 14.11; Mt 10.30) mas os árabes ainda hoje juram pelas suas barbas; e, talvez jurar pela cabeça signifique o juramento pelo cabelo que nela está (Mt 5.36), (V. Barba, Calvície. ) A fim de embelezar o cabelo, recorria-se muitas vezes, aos pós; a guarda de Salomão, segundo conta Flávio Josefo, polvilhava com ouro as suas cabeças, que previamente haviam sido frisadas e perfumadas, As classes superiores, entre os medos, usavam cabeleiras; mas, conservando os assírios os cabelos em compridos anéis, é duvidoso se estes eram formados dos próprios ou de falsos cabelos. Os hebreus nunca usaram cabeleiras. A cor predileta era a preta, fazendo-se uso, algumas vezes, de diversos preparados colorantes, ou para dar mais brilho ao cabelo, ou para ocultar a idade."

Que digo eu, então? Ultimamente, os cortes femininos e masculinos estão globalizadamente massificados. Eu mesmo aderi à onda e...gostei. Certamente, não é por ser moda, mas esta onda de desconexão dos cabelos (nenhuma obrigatoriedade da linha medida, do corte matematicamente estabelecido), principalmente dos cortes masculinos, quebra eficientemente a entediante monotonia. Outra técnica atual bem favorável é o visagismo.
A técnica não é tão nova e o termo vem do francês visage (rosto). Ela procura trabalhar a estética e adequação do cabelo, assim como um arquiteto faz com uma casa: é usada a matemática para medição e organização do espaço, combinado com a individualidade e estilo de vida do futuro morador. Assim, o corte do cabelo é planejado e executado segundo as características físicas e psíquica da pessoa, visando a harmonizá-las. Acho que foi isso o que entendi. Bem, na prática meu cabeleireiro aplicou esta técnica silenciosamente, só vim saber ao pesquisar depois, e foi uma experiência bem proveitosa. Pelo menos quebrou a monotonia que sempre caracterizou o meu cabelo, desde minha tenra infância.
Esse texto ficou comprido demais pro meu gosto. Fico aqui!!!
 

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