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Minha Janela - poesia pessoal

segunda-feira, 26 de fevereiro de 2007

A janela que passa a maior parte do tempo comigo é a do meu quarto. Eu sei que sou livre, mas me sinto preso, de certo modo estou quase sempre emparedado. No meu quarto, quando sozinho e um tanto isolado, pareço poder, por alguns instantes, exercitar meus ouvidos no silêncio dos lábios e num mergulho profundo dentro de mim. Falar o que quero, o que não quero, me calar, resmungar, me criticar. Eu posso me examinar, sem qualquer compromisso de me descobrir, recobrir, redescobrir.
O meu querer também incomoda. Explico: é difícil querer o que não se imagina, o que não se vê. Todo querer é limitado e condicionado a tudo o que é de algum modo conhecido. Não tenho nenhum querer ou desejo que já não tenha sido desejado por outra pessoa.
No convívio comigo mesmo não sou obrigado a ser meu próprio detetive. Não sei se exatamente quero descobrir algo novo em mim, ou entender minhas velhices. As réguas são leves, mas medir a alma é cansativo.
Correntes pesam e doem. Não me apraz viver cada momento matematicamente, baseando-me em fórmulas, cálculos e teorias. Muito me alegram a surpresa, a espontaneidade e o encantamento!
O fato de que eu exista me inquieta. Longe de mim querer dar respostas. As obrigações que a ética e a história me legaram me cansam, e eu sozinho tenho que aproveitar e descansar os sentidos, elevar minha mente ao etéreo, ao inefável. Contudo, existir me inquieta o pensamento.
Há uma janela em meu pensamento pela qual quero vislumbrar um sol diferente.
Há uma janela do meu quarto: vejo uma ponta limitada do céu enquanto alguns passarinhos passam cantando.
Há uma cadeia de montanhas na frente da janela do meu quarto. Não são de pedra: são meus problemas, meus medos de sair por aí desbravando o mundo que me rodeia.
Queria ter outra visão da janela do meu quarto. Queria ver outras coisas, queria que meus olhos vissem de modo diferente. A janela estás aberta? Sim. Com ela está fechado um pouco do céu, um pouco do ar, um pouco do que é gratuito e essencial a qualquer ser humano.
À noite, apenas escuridão e o brilho afastado e tímido de algumas estrelas.
O vento passa apressado, com pernas e asas ligeiríssimas, como se eu ou ele mesmo não existisse. Parece que o vento se esquece da minha janela.
Ainda persiste um consolo: tenho certeza que posso falar com Deus por ela.
Não há bombas explodindo, não há paisagens cinematográficas. Não há sons de festa, enterro, multidões. Sei, é só uma janela. UMA JANELA, UMA JANELA, UMA JANELA!!!!
Algumas vezes, vejo gatos andando por sobre os telhados. Uma única vez vi um camaleão, aliás, foi a primeira vez que vi um ao vivo. Ele tinha um verde forte, talvez, isto me lembrasse um pouco a floresta que eu queria contemplar através dela. Floresta de verdade, sem cara de planejamento, sem matemática arquitetônica, como se a floresta fosse dividida em lotes de terra.
Vejo o brilho do sol: essa luz do sol que ainda penetra gentilmente por onde a deixemos passar.
 

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