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Egossistema

terça-feira, 25 de abril de 2006


Egossistema

Tem dias que fico como o rio do sertão
Seco. O chão rachado, o ambiente morto
Nenhum canto de pássaros
Nenhum barulho de vento
É hora de falar para dentro
Falar comigo mesmo
Meu interior
Há quanto tempo não conversamos?
Não trocamos intimidades, carinho, segredos?
Não nos damos conta de que precisamos nos compreender?
Afinal, estamos juntos!
Co-habitamos, co-existimos,
precisamos intensamente um do outro!
Hora de buscar
Algo que nem me dei conta que perdi
Hora de silenciar para tudo
E de ouvir as coisas que me cercam
Eles querem falar
Os livros que leio
os livros que ainda não terminei de ler
Os livros que nunca li
O pensamento que nunca mastiguei no entendimento
a porta do quarto, a porta do quintal
O céu, os lápis que não pintam mais
Os quadros que nunca mais limpei
As roupas que viraram fantasias,
As roupas que me deixam gordo, feio, sadô, nazi, cult, drag
Venham todos os seres deste egossistema
Podem desabafar, eu os ouvirei
Venham todas as perguntas órfãs
Eu tentarei responder
Pelo menos reconhecer que nunca busquei respostas
Hora de parar os dedos,
Os pés, os músculos, a genitália
Hora de comer a mim mesmo
E sentir o meu sabor
De me cheirar, me tatear, me tocar
Medir-me, bater-me, examinar-me
Tem dias que os peixes somem do mar
E as gaivotas não vejo, e o sol perde a cor
O sol perde o brilho, o meu olho perde o brilho
As estrelas ficam todas negras
A lua vira ruínas de um romance
Eu consigo ver as imagens das pessoas
Mas, não consigo vê-las
Vejo meu rosto
Mas, não me reconheço
"Como estás?", tenho que começar um diálogo
Quero encontrar as fotos não batidas
De dentro de dentro de dentro de mim
Panoramicamente, "3d-mente"
Invisivelmente, paparazzianamente
Hora de pegar o microscópio da alma
E analisar as colônias de micróbios éticos e mórbidos
Cada Fungo, bactéria, detrito fecal
Hora de esvaziar-me
Para encher-me
Me!
Jackson Angelo, em 24/11/2006
 

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