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sexta-feira, 1 de março de 2024

"Ecos do Coração: Entre Amar e Partir" - Quando amar é 'morrer' ou 'não-viver'



Vim aqui
Fiquei ali
Escondido

Falei baixo
Calei-me
Sonhei
Toquei-te
Gritei
Acordei
Dormi
Sufoquei-me
Vi-te
Acenei
Rugi
Chorei
Caí
Voei alto
Sonhei
Não fui
Não quis

Ver-te
Foi bom
Encontrar-te
Nunca mais
Preciso

Viver e
Dormir
Sonhar
Sem ti!
Sonhar
Sentir-te!
Confuso
(Jackson Angelo)

Esta poesia evoca uma intensa jornada emocional, um diálogo interno repleto de contradições e anseios profundos, reminiscente de técnicas literárias que empregam palavras solitárias para transmitir um espectro vasto de sentimentos e pensamentos. O estilo, que ecoa a estrutura de obras minimalistas, onde cada palavra carrega um peso significativo, lembra a arte do "monóstico" — poemas de uma única linha ou palavra que desafiam o leitor a encontrar profundidade na brevidade.

A dualidade apresentada — o desejo fervoroso entremeado com a hesitação e o recuo — remete a personagens complexos da literatura universal e brasileira, que se debatem em suas próprias contradições internas. Pode-se traçar paralelos com figuras como Hamlet, de Shakespeare, cuja famosa indecisão e questionamentos existenciais refletem o conflito interno do "ser ou não ser". Na literatura brasileira, temos Brás Cubas, de Machado de Assis, em "Memórias Póstumas de Brás Cubas", que, em retrospecto de sua vida, reflete sobre suas escolhas, desejos e arrependimentos, numa narrativa que desafia as convenções.

O uso recorrente do pronome "te" insinua uma relação íntima e complexa com o objeto do desejo, introduzindo a cada menção um novo aspecto dessa dinâmica turbulenta. Essa técnica pode ser comparada à abordagem de Clarice Lispector, cuja prosa introspectiva explora a profundidade dos sentimentos e a complexidade das relações humanas, especialmente em obras como "A Hora da Estrela", onde a protagonista Macabéa vive entre o desejo de uma vida plena e a aceitação de sua existência marginalizada.

A poesia procura capturar com relativa precisão a essência do conflito humano: o desejo intenso contrastando com a percepção de que talvez não se deva ou não se possa ter o que se quer. Essa ambivalência é uma característica universal da condição humana, explorada por muitos autores ao longo da história da literatura. Ela nos leva a refletir sobre nossos próprios desejos reprimidos, as escolhas que fazemos e as que evitamos, em um mundo repleto de possibilidades e restrições. A poesia, em sua brevidade e intensidade, convida o leitor a uma introspecção profunda, a reconhecer e explorar a complexidade de seus próprios sentimentos.

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