Nesta nova sociedade o meio para que eu me corrigisse foi o desprezo.
Assim era a lei: para eu me aperfeiçoar, melhorar, me corrigir, todos da
sociedade deveriam me desprezar. Não poderiam agir como se me vissem,
como se eu tivesse existência.
Eu estava debaixo dessa lei e por infringir artigos dessa lei tive que ser submetido às penalidades nela definidas.
Eu poderia gritar, espernear, chorar, me
debater, assaltar, me desesperar; apresentar joias, ouros, ferimentos,
histórias, brindes; quebrar bens públicos, todos continuariam agindo
como se eu não existisse. Assim era a lei. E foi o que fiz, nada adiantou. Eu não existia, ainda que com lágrimas e desespero tenha procurado.
Passado o tempo da penalidade a mim imposta, passou meu castigo, conforme a lei,
e então novamente fui reintegrado à sociedade; passei a ser visto,
passaram a falar comigo.
Quando, eis que vejo a alguns metros alguém com o
mesmo castigo que sofri imposto por essa nova sociedade. Todos se
afastaram e fingiram nada ver, todos respeitaram a lei. Meu coração não
suportou e lhe ofereci o que mais precisei em todo tempo dessa
inexistência social: um abraço apertado com todo calor humano da minha
alma.
Creio que fui realmente aperfeiçoado, embora não conforme a lei.
Texto: Jackson Angelo
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