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Pratos típicos e rústicos de Cabedelo

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Sempre quis falar sobre o que normalmente se come em minha cidade: Cabedelo. Não vou falar de pratos ricamente elaborados, mas de pratos comumente encontrados e consumidos a grosso modo em tom bem pessoal. Como a cidade é nordestina e litorânea há muitos pratos que são preparados à base de peixes, crustáceos e na culinária local entram muitos pratos típicos do nordeste.
Como em boa parte do Brasil, são feitas três refeições por dia: café-da-manhã, almoço e jantar.  Além disso, se fazem muitos lanches, geralmente antes do almoço e após o jantar.
Vou começar falando do feijão. Os mais fáceis de encontrar nos supermercados comuns são: feijão preto, mulatinho, carioca, macassar, fava, feijão verde.
Geralmente, o feijão é preparado com muitos temperos, verduras e legumes, além de carnes: cebola, coentro, batatinha, pimentão (pouco), jerimum, alho, louro, etc. As carnes mais comuns que adicionam gosto e consistência ao caldo do feijão são: carne de charque, bucho, miúdos de vaca em geral, bacon, calabresas, etc. Alguns ainda colocam tripa no feijão, mas depende do gosto de cada um. Eu não gosto. O jerimum é bem interessante, pois adiciona uma forte consistência ao feijão.
Com o feijão verde geralmente são feitas farofas com farinha de mandioca para acompanhar.
As farofas são feitas de acordo com o gosto de cada um. Há dois principais tipos de farinha de mandioca: a farinha quebradinha e a fina.Eu ultimamente prefiro a fina, acho mais fácil de digerir. Entre os famosos pratos preparados com farinha se destacam os pirões. Os mais comuns são de peixe, carne verde e caranguejo. Alguns chamam o pirão de peixe de escabeche de peixe. Não sei por qual razão.
Adoro fava, mas acho que elas devem ser comidas ainda quentes. Em algumas ocasiões, minha irmã prepara a fava com tudo que se possa colocar em termos de verduras e carnes dentro. Além disto, ela cozinha em fogo a lenha, que dá um sabor diferente de qualquer prato cozido "a gás". Realmente, fica muito melhor. A fava quando vai esfriando cria muita massa, por isso, gosto dela bem quente.
O caldo do feijão é utilizado também como aperitivo. Eu adoro. Minha mãe por ser bem interiorana ainda teve um bom tempo o hábito de comer feijão com as mãos sem auxílio de talheres. Ela misturava o feijão com caldo e farinha e amassava, depois ainda o embebia em molho de carne. Caramba! Eu ficava louco com esse preparo rústico!
 Outra coisa é que o famoso leite de coco não era industrializado e ainda hoje aqui as pessoas pelejam para comprar o coco ralado nas feiras. O leite de coco naturalíssimo podem compor vários pratos como o próprio feijão. Existem algumas receitas de feijão com caldo de coco. O coco ainda é muito utilizado para compor bolos. Puxa! É muito gostoso o bolo feito com leite de coco natural.
O doce de mamão verde é outra delícia comido nas refeições ou como lanches! Mãe tirava o mamão natural do pé e o cozia com açúcar e coco, não me lembro se ela colocava outras coisas, mas é bom demais! Rapadura existem já de vários sabores mas meio que industrializados, não gosto muito, nem é muito consumido pelo que posso ver pelas gerações atuais daqui.
Nos bares das praias, os aperitivos mais comuns geralmente levam coco: polvo no coco, caranguejo, goiamum, marisco, ostras, peixe no coco, etc. Um peixe que adoro feito ao coco é o cação.
O polvo se tornou um pouco caro ultimamente por aqui devido à escassez, mas confesso é a carne que mais adoro, depois da carne de baleia. É leve, desce fácil. O tal do polvo é feinho, não tem ossos, mas depois de cozido a carne dele é inconfundivelmente gostosa, no meu paladar. Lembro-me quando fazia universidade e falava do polvo e algumas meninas do sul que estudavam aqui na Paraíba se referiam com nojo ao polvo e sua carne. Meu paladar ficou indiferente a isso.
Voltando à carne da baleia, digo que faz décadas que não como, mas ainda cheguei a provar e sei que é sensacional o sabor; o molho da carne de baleia não tinha igual. Pena que não se crie ainda em cativeiro porque não tem comparação o sabor.
Lagostas frescas nem se comparam às que compramos em mercados. Lembro-se que tava fazendo um passeio com amigos em um barco e um dos rapazes saltou no mar com um arpão e pegou um monte de lagostas. Ele me deu. Quando cheguei em casa apenas cozi com água e sal. É muito, muito, muito bom!
Aqui não sei se ainda há, mas anos atrás as  "caudas" das lagostas também eram vendidas e me lembro que eram muito gostosas.
Peixadas nossa! Tem pra tudo que é gosto!
As cocadas são feitas com coco natural, ainda colocam outras iguarias, como creme de leite e cravo.
As galinhas de capoeira ainda existem por aqui e  realmente nada têm a ver com o sabor dessas galinhas de laboratório que abundam no mercado. O ovo é mais consistente, os ossos mais duros e o sabor é mais encorpado, muito mais gostoso. Mãe já criou algumas. Eu tinha pena de comer as galinhas assim, mas eram criadas para isso também. Quando iam matá-las as pessoas diziam que se a gente sentisse pena elas não morreriam facilmente. Também é comum que se comam pratos como galinha à cabidela e galinha-matriz. Creio que por conta do preço, o frango é a carne mais consumida localmente.
Há uma comunidade no bairro de Jacaré, aqui também em Cabedelo, que vive da pesca, peixes e suculentos caranguejos. Eles pescam geralmente à noite. O caldo resultante do caranguejo com coco também é servido como aperitivo. Hum! Amooo!!!
É possível encontrar nas ruas pessoas que vendem peixes frescos a preços bem em conta.
Não curto muito língua de boi, mas muitos adoram esse prato por aqui, principalmente como aperitivo. Além da língua do boi, entram o fígado e o coração de galinha. Não curto muito esses. São utilizados como carne no almoço, em jantas ou ainda como aperitivos.

Há um tipo de carne de vaca chamada por aqui de "rejeito" (é assim que falam). Com essa carne geralmente são preparadas sopas. Eu amo essa sopa porque é muito suculenta, cheia de verduras e temperos. Os rejeitos são compostos por ossos bem grandes, com gordura e carne. O sabor que deixam na sopa é muito forte. Eu como pratos e mais pratos disso. E me acabo no osso.
O mocotó (carne) também é bastante consumido tanto no almoço como aperitivo. Dizem que levanta até defunto. Nesse contexto ainda existe a cabeça-de-galo ou pirão da caridade, feito com farinha, ovos, coentro, água, sal, pimentão, pimenta do reino, etc. Quando alguém está fraquinho toma uma cabeça-de-galo e fica novinho em folha. Bem, eu adoro o que mãe faz (quando ela tá com paciência).

Em termos de bebida o que noto é que a maioria gosta muito de cerveja, seguido de whisky e cana. Coquetéis, caipiroscas, runs, vinhos também são bem apreciados. Nos bares da praia, o que mais se toma é cerveja mesmo! Entre as cervejas mais amadas em minha cidade estão Nova Schin, Devassa, Bohemia e Skol.
A tapioca e outros pratos feitos com farinha de mandioca são comidos geralmente no café da manhã principalmente e no jantar. Existem milhares de tipos de tapioca. Na verdade, as pessoas chegam a inventar novas receitas conforme sua vontade. Eu gosto da tradicional mesmo. Mãe fazia as tapiocas com goma de mandioca comprada na feira.
Churrasco é mania nacional creio. Aqui muitas festas são feitas com estilo de churrasco.
Em termos de frutos não sei nem o que falar. Considero um paraíso. Na feira livre daqui há muitos vendedores que colhem frutos de seus próprios quintais e vendem nestas feiras. A jaca é feinha por fora, mas tão docinha por dentro, que fica com aspecto amanteigado. Interessante é que as sementes da jaca são bem grandes e alguns a cozinham com água. Já fiz isso e gostei, fica bem salgadinha, tem um sabor leve, alguns podem não gostar, eu gostei; mas têm que ser bem cozidas porque são sementes muito duras.
A maçaranduba tem um leitinho meio pegajoso, mas seu açúcar e sabor também não tem nada parecido. As mangas pululam nos quintas e nas feiras livres no verão. São muitos tipos, eu gosto de todos. Adoro suco de cajá-mirim e de seriguela. Não gosto muito do umbu, fruta-pão, jenipapo, sapoti, tamarindo, apesar de muitos gostarem. A seriguela é muito doce e por mais que se coma não enjoa. A cajarana é a fruta que minha mãe mais ama. É gostosíssima tanto verde quanto madura. Seu caroço é um pouco hostil pois tem muitos "espetinhos", mas dá água na boca lembrar de uma cajarana.
Outros frutos que amoe que são muito bem aceitos aqui são: graviola, pinha, caju, laranja-cravo, carambola, pitomba, maracujá, enfim, frutos tropicais.
Em casa tivemos já 4 espécies de bananeiras. As bananas de uma delas - não lembro o nome- eram fritas com manteiga em frigideira e depois após adquirir cor eram salpicadas de açúcar ou creme de leite. Adoro principalmente no café-da-manhã. Não tem como descrever ou comparar o sabor de algo natural assim com as que podem ser compradas em supermercados, não sei se por serem cultivadas com métodos artificiais e com uso de agrotóxicos.
Todos os que vêm aqui confirmam que na Paraíba temos os abacaxis mais doces do Brasil. Amo abacaxi. Sabe quando corto um abacaxi em rodelas, fico esperando o sumo que sai dele se acumular no fundo do prato e o bebo, é bem docinho. Quando era criança havia briga entre meus irmãos para saber quem ficaria com o talo inteiro do abacaxi. O talo é a parte central do abacaxi. Minha mãe fazia um rodízio: dava a um depois a outro.
Com as cascas do abacaxi ainda são preparados sucos. As cascas são colocadas de molho, se não me engano, e depois é feito um processo para retirar o líquido com um gosto bem peculiar.
Com o fubá de milho se fazem muitas coisas aqui: cuscuz, bolos, farofas, tortas, doces, bolos, etc. O bolo do fubá de milho é muito gostoso, bem legal pra tomar no café da manhã. As farofas de cuscuz geralmente levam ovos, verduras, sal, coentro, carne de charque, fica muito gostoso para acompanhar alguns tipos pratos.
Observação: há um tipo de cuscuz feito com goma de mandioca. O modo de preparo é muito parecido, mas o sabor é super diferente. Outra: adoro qualquer tipo de cuscuz misturado com coco. É bem diferente do cuscuz feito sem coco natural. Na feira livre daqui é possível encontrar pessoas que raspam o coco na hora e você o leva já pronto para qualquer mistura.
Já provou paçoca? Pois a poçoca do milho natural batida em pilão é outra coisa muito diferente desse tipo industrializado. Eu já tive esse privilégio, mas hoje em dia faltam pilões.
Algo que se come muito por aqui é raiz: mandioca, cará, inhame e macaxeira, batata verde. Geralmente são acompanhados com carnes, molhos e manteiga, dependendo do paladar de cada um. Com estas raízes são criados pratos diversos de bolinhos salgados, tortas, doces a bolos, etc. O bolo doce de raiz que mais gosto é o de macaxeira. É tão diferente!
Pratos típicos de milho muito associados a festejos juninos também são bem consumidos principalmente no café da manhã: pamonha, canjica, cura, etc.
Tem muito, muito mais mas se eu for lembrar de todos vou me perder. Agora vou comer um pouco!

 

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