Tava lembrando de algumas pessoas da vida real, um pouco de estórias que vi em algum livro, um pouco do que até pude ter sido em algum instante, do que vi em tantos lugares...
E me lembro que algo pode ser peculiar em vários seres humanos: a idéia equivocada de que seu pouco conhecimento já seja o suficiente para ter autoridade e convicção plena para falar sobre algum assunto.
Lembro que certa vez, ainda muito pequeno, talvez com uns 9 anos, fui ao médico e questionei com ele sobre os sintomas que estava sentindo: ele assegurava que era alergia e eu retrucava: "Não é". Só não lembro que doença eu dizia que tinha. O médico indignado saiu da sala e disse que eu não precisava dele. No fim: era alergia mesmo.
Os iniciados em alguma religião podem ser afetados por esse tipo de equívoco também: ainda novos na fé, costumam defender de todo modo os preceitos, leis e costumes que abraçam, porém ainda sem o fundamento concreta e plenamente estabelecido. Mas, pra eles o ideal é defender essa fé. Aí, volta e outra, no encontro com os que pensam diferente é possível que exista aquele tipo de diálogo grosso e sem proveito: "na minha pode isso, por que na sua igreja não faz isso ou aquilo? A minha é que é a correta, a sua não!" Por aí vai. No fim, o resultado é desunião. Mas poucos têm coragem de admitir que não sabem ainda as respostas necessárias. Outros, passam a vida defendendo coisas que nunca procuraram conhecer com a necessária profundidade: as origens, a história, os prós e os contras, etc.
Começo uma nova atividade, na qual tenho pouca ou nenhuma experiência, apesar de diplomas, cursos, palestras, etc. e desprezo a palavra, a experiência de quem já está naquela atividade há décadas.
Na adolescência (talvez até noutras épocas) é comum que o ser humano, muitas vezes, deixe o sentimento de audácia, de desafio e aventura superar os seus limites de competência, conhecimento, preparo emocional e técnico. Ele já ouviu dizer que o fogo queima, sabe que o fogo queima, já viu alguém ser queimado, já ouviu esse alguém falar sobre isso, mas ainda não foi queimado ou quer saber se sua pele vai ou não sofrer os mesmos efeitos. Estou dizendo isso apenas para efeito de comparação.
Esse assunto pode até ser o temperamento de alguém, sobre o carácter das pessoas, de animais, de uma cidade. Alguma vez, alguém surpreso não já lhe falou: "Você não é nada do que eu pensei!"?? E você pode ficar até pasmo com a incrível distância entre o que aquela pessoa pensou de você e o que você realmente é!
Pior ainda é quando as pessoas começam a agir em relação a você baseado em um conhecimento equivocado, insuficiente, talvez lhe julgando pela sua tatuagem, pela sua roupa, pelo pouco ou nenhum perfume, pela marca de roupa ou nenhuma marca, etc. Ou pior, quando alguémn lhe julga pelo que dizem de você, no conheciemnto talvez ainda mais perdido, desencontrado e mórbido que muitos fazem de você. Algumas vezes alguém é julgado por um ato individual, que pode até ser interpretado como erro (e pode até ser realmente um grande erro). Mas ignorando conscientemente toda a sua história, afinal, antes desse erro, quantos acertos não pode essa pessoa ter cometido sem nenhum elogio?
"A primeira impressão é que fica!" parece ser um ditame tirano no funcionamento da sociedade. A gente é obrigado a obedecer essa ordem social se quisermos ter eficácia em algum objetivo, principalmente se envolve a apreciação (alguém que vai fazer um perfil de seu carácter) de outro alguém, o qual nem lhe conhece.
Em minha cidade, Cabedelo, algumas pessoas costumam dizer: "As críticas são muitas, os agradecimentos são poucos!". É verdade, não é!?! Dificilmente, um chefe de setor, um superior seu de alguma instituição tem o coração movido a falar pelo que funciona corretamente, mas tão logo aconteça algum erro, por mais justificável que seja, começam as palavras de cobrança ignorando as causas do erro, exigindo atenção, cuidado, etc. O chefe nunca vai no seu setror, não sabe o que ele precisa ou não, talvez nunca tenha visto sequer seu rosto. Mas a partir de um erro já sabe tudo sobre você!
Imagine passar um ano inteiro sem ouvir uma palavra de motivação, encorajamento. Isso cansa e não motiva ninguém a melhorar ou crescer.
No dia a dia é provável que nos defrontemos com a possibilidade de falar sobre algo, e essa é uma grande oportunidade de medirmos até que ponto devemos saber mais sobre o que precisamos ou queremos falar.
Falamos sobre educação, sobre professores, sobre o papel do governo, sobre o amor em família e o que lemos ou sabemos a respeito? O que sabemos já é o suficiente para expressar vitoriosamente as nossas sempre convictas opiniões?
E ao falar de alguém já sabemos tudo o que é necessário sobre o que vamos falar? O que nos dá tanta certeza? O que nos credencia a falar sobre elas e emitir nossos julgamentos, principalmente sobre os seus erros? Nenhum de nós tem uma caixinha preta em que guardamos as informações sobre nós mesmo que jamais ousaríamos revelar a ninguém?
Então, eu cheguei agora, mas já sei de tudo?
EU CHEGUEI AGORA MAS EU SEI DE TUDO
Eu sei que sei
Posso dizer que sei
Não sabia nem como começar
Hoje sou eu quem faz e bate o martelo
Eu nunca lhe vi
Eu nunca te conheci
Não sei a tua história, nunca vi nada dela
Mas vou fazer tua biografia completa e não-autorizada
Porque eu cheguei agora mas eu já sei de tudo
Eu não vi o mundo sendo formado
Não conheço o percurso da História
Mas sei como tudo vai terminar
Sei do destino e do fim de cada ser
Não preciso ouvir o professor explicar
Não preciso do diagnóstico de um médido
Porque a partir de uma bula fiz toda Medicina
Porque eu comecei a falar agora mas já sou a voz
Sou o xerife com autoridade para condenar milhões à prisão
Até a morte me obedece
O inferno: sou eu quem mando no porteiro!
O céu: esqueça, já fiz outro lugar!
Porque eu cheguei ainda há pouco, mas já sei de tudo!