Pesquisar neste blog

PRESIDENTE, O SENHOR ME OFENDEU (WALDO LUIS VIANA)

quarta-feira, 1 de abril de 2009

" A crise foi causada por comportamentos irracionais de gente branca de olhos azuis... "
Palavras do Presidente Lula durante a visita do primeiro-ministro britânico, Gordon Brown, em 26 de Março, ultimo.

PRESIDENTE, O SENHOR ME OFENDEU (WALDO LUIS VIANA)

O senhor, presidente, me ofendeu! Desculpe-me, mas tenho uma filha branca, loura e de olhos azuis. Eu, que sou filho de baiano com francesa, misto de Castro Alves com Catherine Deneuve (não necessariamente nesta ordem), sinto-me triste e magoado com a última metáfora do maior presidente da história deste país!
O senhor me ofendeu, presidente! Inteirado pela dupla caipira “Amorim e Garcia” de que pela extrema decadência que começa a aparecer no quadro interno, o seu governo só poderia se salvar pelo quadro externo, o senhor me vem com essa frase bombástica, típica de governantes totalitários, culpando um grupo de pessoas pelo tom da pele, a cor dos cabelos e beleza dos olhos, como se fosse proprietário e dilapidador da riqueza do planeta!
Presidente, como o senhor é primário, linear e complexado!
Os amantes das ditaduras, mesmo os eleitos diretamente, têm que encontrar culpados para os seus fracassos, especialmente desenhando um inimigo artificial no horizonte. São incansáveis os exemplos na história que nem vale a pena rever.
O senhor quer “um bode respiratório” para o desencanto, que lenta e suavemente, vem se apossando do povo brasileiro, enganado tantas vezes, mas que achava que do presidente-operário merecia melhor tratamento. E como os coelhos não saem mais com facilidade da cartola, não há bolsa-esmola, PAC de mentira e casinhas populares em véspera de eleição que deem jeito nos desconfiados que se avolumam – o senhor me sai com mais um de seus aparvalhados “pensamentos”...
O senhor já deu o que tinha que dar! Já encantou as “zelites”, em que hoje cospe, é malandro adivinhado, cujo arsenal de espertezas está no fim, porque o que existe pela frente é desemprego e recessão pelo caminho. O senhor preferiu a popularidade fácil às reformas estruturais e deu no que deu. Perdeu o bonde da história!
Agora não tem mais dinheiro para nada e os plutocratas que o senhor ofendeu hão de lhe dar o troco, rapidamente.
Muitos outros, por outro lado, irão cobrar-lhe o jogo de palavras, em si. Mas isso é irrelevante, dado o enorme cipoal de batatadas com que Vossa Excelência já nos brindou, ao longo da sortuda
vida de governante. No entanto, a sorte acabou e o que importa é o que se demonstra por baixo do palavrório chulo e insensato, produzido de propósito, como aduziram os jornais britânicos, para o despreparado público doméstico.
Aqui dentro, o senhor quer achar um culpado para a nossa crise! Não são os índios, os negros, os homossexuais, os portadores de necessidades especiais, os quilombolas, os estudantes, os adeptos de movimentos sociais; não são as ONGs, os idosos, os aposentados, os cotistas das universidades, os meninos de rua, os mendigos, os analfabetos funcionais ou os semi-mortos nas emergências dos hospitais – não!, são os brancos, os louros de olhos azuis que desestabilizam a Pátria-mãe multirracial!
Não é a tresloucada política econômica que o senhor nos impingiu, que agora explode por todos os diques, não é a “cumpanheirada” aboletada nos cargos e fundos de pensão, nem os banqueiros amigos, que agora estão sofrendo, coitados!, porque veem os lucros diminuindo, não são as empresas a despejar empregados na rua da amargura – não, os culpados são os outros, os de fora, aqueles em que o senhor não pode mandar, porque seus capitais especulativos não virão mais para cá e nossa elite está externalizando os próprios haveres, porque sabe muito bem o que vem por aí...
O senhor me ofendeu e ofendeu minha meiga menina! Ela não tem culpa de viver num país governado por um despreparado, que no final do governo sabe que não haverá retorno, que o estoque de mágicas terminou e o palhaço ficou só, no picadeiro. Resta chorar, porque o senhor provoca pena, o personagem alquebrado já encheu, como novela repetida e não adianta dividir para reinar, colocando branco contra negro, índio contra não-índio, empregado contra desempregado, proprietário contra sem-terra, militares contra anistiados – que esse jogo não pega mais, não esconde a falência dos gestos e a vacuidade do governante que não tem para onde ir, a não ser que, constrangido, efetue um golpe de força contra o arremedo de estado de direito e a falsa democracia, que ainda nos une.
O senhor não maneja a crise, é completamente manejado por ela! Não antecipou a constrição dos seus tentáculos e por conta do próprio orgulho e de imaginar que estava fazendo o melhor dos governos demorou demais a acordar! Agora Inês é morta e só faltava dizer que os assassinos eram brancos, louros e de olhos azuis. Um péssimo detetive nesses tempos exitosos de Polícia Federal!
No entanto, o senhor escolheu mal a acusação! Ofendeu-me e a milhares de brasileiros, descendentes de europeus, que misturaram o próprio sangue e as esperanças na epopéia de construir uma nação multiétnica e multirracial. Só o senhor discrimina, do alto de seus preconceitos arraigados e encardidos de homem complexado, que jamais se livrou de si mesmo! O pior, presidente, é como o senhor fica, exibido em todas as esquinas! É tema de deboche nos bares! É diplomado na bazófia, no menoscabo, no que de pior pode haver num homem que veio de baixo: o senhor provoca vergonha nos pobres. E agora quer provocar raiva nos aparentemente ricos! Nunca neste país!
Sinto-me ofendido e acho que este povo, em clamor nacional, deveria enquadrá-lo no crime de racismo! O que o senhor disse é muito pior, para minha filha, do que chamá-la de loura burra ou branca azeda. Esses codinomes os brancos desse país já estão acostumados a ouvir.
O que não aguentamos é ver o chefe da Nação, solerte, do alto da própria ignorância triunfante, personalizar a culpa de uma crise que o senhor não quer sobre os ombros, como aliás nenhum dos mastodônticos crimes de corrupção que se refletiram sobre o seu governo!
O senhor ofende porque está em desespero! Ofende porque está no fim da estrada e a sorte sumiu! Mas não se esqueceu das próprias origens, do ressentimento e de encarnar o ato obsceno daquele personagem da piada, que já não se pode mais contar neste país: o senhor nos ofendeu e ainda está fazendo das suas, na saída...
____________
Waldo Luís Viana é escritor, economista e poeta e pede desculpas aos seus pouquíssimos Leitores por ter sido tão gentil...
Teresópolis, 27 de março de 2009.

CATADO NO BLOG POR UM PAÍS MELHOR

3 comentários

  1. Fiquei "morrendo de peninha" do Sr. Waldo e sua pimpolha de olhos azuis...; enquanto em todo mundo a mensagem clara do Presidente Lula foi perfeitamente entendida, uma metáfora com um sentido claro de países desenvolvidos e países emergentes e pobres, nada mais..., ai a nossa "inteligência tupiniquim reacionária" (com olhos azuis ou não) aproveita para "cair de pau" em cima de Lula, do PT e de toda a massa historicamente discriminada e que agora reclama (e tem voz alta) .
    Ofendem-se por finalmente "ouvir umas verdades" que não tem nem de longe o cunho determinista e verdadeiramente racista que a "plebe rude não-branca" tem ouvido e sofrido por séculos...; afinal seus "olhos azuis" de que tanto se orgulham e sempre ligados a idéia de "nobreza, supremacia e civilidade" afinal já não são mais apenas sinônimo de "perfeição" podem também ser associados a uma coisa inerente a toda a humanidade... a falha, a ganância e a falta de alteridade com os irmãos de outras origens .
    O próximo passo é se sentirem "ofendidos" quando alguém lembrar que não existe "cabelo bom" nem "cabelo ruim" mais uma "perda inestimável" no seu arcabouço supremacista..., façam-me o favor...

    ResponderExcluir
  2. Falar para o Sr. Waldo que na minha familia tb tem pessoas louras com olhos azuis- e não me senti nenhum pouco ofendida pelas palavras do presidente ( a quem não votei.
    Acho que a falta de assutno do dr Waldo o levou a esse texto que ele deve ter feito somente pra ele e sua filha loura dos olhos azuis entenderem.
    Creio que, com exceção da familia dele, o mesmo não está autorizado em falar em nome de ninguem porque pelo jeito somente ele sentiu-se ofendido e teve o tempo suficiente para escrever umas baboseiras (pra mostrar sua cultura)usar um meio de comunicação para invadir o meu precioso tempo. Ele deve assisir o JN todos os dias e o FANTASTICO todos os domingos para ver se farão algum comentário de seu (loooonnngo) texto.
    Obrigada por esse espaço.
    Sandra

    ResponderExcluir
  3. Anônimo5:09 PM

    WALDO, VOCÊ ME OFENDEU!





    E eis que mais uma mensagem, que deveria – imagino – circular entre um grupo restrito de pessoas, oportunistas da linguagem, chega a mim. Tudo bem, normal: quem está no poder sempre é alvo da boa e da má crítica – o que não é nem um nem outro o caso do ressentido articulista (será?) abaixo. (Lula fracassado? Que nada! Continua em alta.) Como dizia, um grupo restrito de pessoas, os anti-Lula. E, consequentemente, contra um bocado de coisas personificadas na figura de Lula: anti-pobres, anti-nordestinos, anti-operários...



    Parece perda de tempo, eu reportando-me a essas bobagens. Mas eu também me divirto escrevendo. E sei que alguns se divertem com os meus apartes.



    Então, lá vai. Mas, quanta ignorância, santo Deus! Então vocês não sabem? Vou “explicar” a vocês o óbvio ululante, como diria diria Nelson Rodrigues. Eis os olhos azuis aos quais Lula reportou-se, metaforicamente.

    [http://ideiasdelirantes.files.wordpress.com/2009/01/george-w-bush-1.jpg?w=470&h=550]

    Lindos olhos, não? Pois eu quero mais é que Alá os cegue! (rs). Esses são os olhos responsáveis, em efígie, pela crise. (efígie = “representação da figura convencional de uma personagem real ou fictícia”.) Estou falando difícil agora, como o ressentido articulista, só para explicar a minha dúvida anterior quanto ao artigo: pra que tanto esnobismo com a linguagem? Quanta palavra difícil, héin? Vocês já sabiam o que é “plutocrata”, “cipoal”, “aduzir”, “alquebrado”, “constrição” “menoscabo”, “solerte”? Eu, não. (Mastodônticos e bazófia eu já sabia.) Parece coisa parafraseada, adaptada de outro texto, escrito sob encomenda. Eu, como não sou besta, olho o significado de palavras desconhecidas. Não fico só achando bonito, sem entender.



    Ah! Mas o artigo “Presidente, o senhor me ofendeu” (ai, quanto melindre!...) não era um texto para qualquer um, aduzo agora. Não pra mim. O meu texto ideal seria outro.



    [http://audienciadatv.files.wordpress.com/2009/02/lula.jpg?w=128&h=170]

    (Preciso de alguém entre mim e Bush. Por isso a linda foto do Presidente.)



    Também tenho olhos azuis (esta aí sou eu; bonitinha, né? e olha que já sou cinquentona, héin?).

    Pois bem. TENHO OLHOS AZUIS E ME SINTO IMENSAMENTE OFENDIDA COM O TEXTO IDIOTA DO INCONFORMADO ARTICULISTA.





    Saudações lulistas.

    Diana Santos, olhos azuis.

    ResponderExcluir

Para seu comentário ser publicado:
1 - Não faça comentários ofensivos, abusivos, com palavrões, que desrespeitem as leis dos país.
2- Os comentários devem ter relação com a postagem.

 

Seguidores do blog

Mais lidos