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Quero acordar

segunda-feira, 22 de setembro de 2008

Quero acordar
(Jackson Angelo)

Poderia ter sido menos chato em vários momentos.
Ao invés de me sentir incomodado ao ouvir meu nome, agradecer por se lembrar de mim.
Ao invés de achar que podia ficar sozinho, aproveitar e lhe dar um abraço.
Ser menos egoísta e possessivo comigo mesmo, me guardando para mim, esquecendo de quem me amava.
Certamente acostumando meu coração a não sentir amor.
Ao invés de aproveitar quando tudo estivesse bem, preferi relembrar erros que se tornaram débitos impagáveis e inapagáveis na minha cabeça.
Relembrar um erro como forma de culpa, de castigar o infrator e continuar eu mesmo me prejudicando. Por que se idolatra tanto o erro?
Poderia ter dormido mais vezes no chão, próximo a sua cama. E dizer que eu estava ali do lado caso precisasse.
Ter penteado seus cabelos em alguns instantes.
E ter acariciado mais seus olhos, seus lábios, ter tocado mais suas mãos.
Esquecer de olhar coisas banais, uma mancha aqui, outra ali, uma parede que precisasse ser pintada, um objeto guardado no canto errado.
Esquecer de cobrar do destino e de divinizar meu sacrifício por ter que ser novamente eu mesmo a perdoar, a contornar a situação, a conceder alívio, a ouvir, mesmo palavras bruscas.
Esquecer de revidar uma pessoa que só está revoltada e não tem muito o que fazer a não ser se chatear.
Esquecer o meu muito falar e estudar e conhecer e me divertir e sair e sempre esquecer do ser quer ali pertinho de mim busca uma frase de amor ainda que repetida. Afinal, conhecer nada vale sem que o amor se faça conhecer no peito. Nenhuma alegria há fora dele. E quando se está triste é bom ficar perto de quem amamos, por isso devemos guardar a estes como extensão da nossa própria vida.
Poderia amanhecer e despertar conforme sua respiração. Aproveitar e ouvir mais seu coração batendo, me encostar sobre ele. E oferecer o meu peito quantas vezes fosse preciso.
Pra socorrer uma vida que, muito além de todas as conquistas ou perdas, se alegraria em ser amada. Que gostaria tanto de ser compreendida em suas limitações de expressão, de conhecimento, de condições financeiras ou espirituais, de fracassos, de humanidade, enfim.
Quando acordar, quero duplamente acordar.
Quero acordar deste túmulo de solidão e isolamento que me separa de quem amo.
Quero acordar do medo de nunca poder viver momentos em que não deixei meu ego falar mais alto. E ainda que escutasse as queixas mais irritantes, esperasse esse vento passar e não me importasse com isso. Não seria útil se importar. Poder provar pra mim mesmo que compreendo, que finalmente compreendo.
Quando acordar! Vou correr contra mim e neste "contra mim" vou me encontrar; contra o tempo, contra o relógio, contra os rituais, contra minhas próprias leis e vou tentar preencher os espaços e expectativas que talvez murchos sussurrem alguma esperança ressequida.
Que Deus me conceda este amanhecer.
Que Deus nos conceda um novo amanhecer.

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