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Dias, meses, anos, vida

domingo, 28 de maio de 2006


Há dias em que há poucas palavras, não que estejamos sem palavras, não que estejamos tristes, é um momento de silêncio: é outra forma de falar, de se comunicar com o mundo, conosco, com as pessoas. Até na escrita, um pontinho só, um oizinho só pode querer dizer muito mais do que aparenta, só que não é a hora das palavras. Isso é tão normal. Há dias em que não quero blogar, dias que não quero sobre mim o peso da responsabilidade (ela cerca natural e forçosamente, necessária ou inutilmente todo o viver. Há dias diferentes dos demais, começando pelas circunstâncias deles mesmos e podendo ainda se iniciar no nosso próprio processo de existir, de ser, de sentir, de pensar. Isso é tão normal. Há dias em que quase tudo incomoda, desde a desarrumação da casa, do meu quarto, até os problemas bestas com que sou conscientemente inconsequente. Há dias estranhos, não parecem ser dias da existência, são alguma coisa diferente da vida, tem algo incômodo, contudo não traz dor, só é estranho. Há dias que são lindos, lindos, lindos, o sol brilha intensamente e a imensidão celestial está entrecortada por nuvens frágeis e sonhadoras. Os ventos sopram, param, trazem esperanças e sonhos, quietude. Dias em que me lembro do país do Pinta-Aparece. Você pinta o ar com um lápis imaginário e o que vem à mente irrompe em forma, cor, matéria, cheiro, imperfeição, tamanho, sabor, enfim, você de tão completo se endeusa. Parece que não vamos precisar de ninguém, que não dependemos de ninguém. Dias em que vejo o espectro das mãos miraculosas que tudo o que tocam viram ouro. E não podem mais ser tocadas as pessoas que dão sentido à nossa própria vida. Pra que esse ouro? Dias em que se mergulha em Oz e o mágico Dias em que O Lobo mau também cansa e até quer brincar de verdade com Chapeuzinho Vermelho. Dias em que Hitler ainda ainda é um embrião. Tem dias que a realidade não dá trégua: tudo o que tem que ser resolvido está no limite, tudo o que tem que ser pago, o que tem que ser construído, reformado ou desfeito, tudo o que tem que ser revelado, dito, escondido, tudo grita: agora! agora! agora! Tem dias pra tudo que é gosto e desgosto. Dias em que todas estas situações estão juntas numa única vida. Dias em que o totipotente Superman perde todo combate contra o Pequeno Príncipe. Dias, meses, anos, vida.
 

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